Depois de tomar um "pito" da presidenta Dilma Rousseff por ter dito que só sai do governo "se for abatido à bala" e de ver três fundadores do PDT pedindo sua cabeça e o acusando de ter "transformado o Ministério do Trabalho num balcão de negócios", o ministro Carlos Lupi (Trabalho) adotou um tom mais humilde em suas declarações. Ao fazer referência à bala, não quis abrir uma frente de confronto com a presidenta da República, mas com seus acusadores.
Lupi vem enfrentando uma série de denúncias sobre assinatura irregular de convênios do Trabalho com ONGs de fachada, além da cobrança de propina dessas entidades por parte de assessores diretos. No sábado, depois da publicação de reportagem da revista Veja sobre as irregularidades, Lupi afastou dois assessores. As irregularidades vieram à tona há três meses e acabaram resultando no afastamento do então chefe de gabinete do ministro, Marcelo Panella, amigo e sócio de Lupi.
No final da manhã de ontem a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) transmitiu a Lupi a insatisfação do Planalto com as declarações dadas na terça-feira, logo depois de uma reunião com as bancadas do PDT no Senado e na Câmara. Na mesma ocasião, o líder do PDT, Giovanni Queiroz (PA) afirmou que o partido deixaria a base do governo caso Lupi fosse afastado. Mas três parlamentares da legenda - os deputados Miro Teixeira (RJ), Antonio Reguffe (DF) e o senador Pedro Taques (MT) - pediram à Procuradoria-Geral da República que abra inquérito policial para investigar o ministro.
Gleisi Hoffmann disse a Lupi que "houve excesso" na fala do ministro e que "ele e todos os ministros deste governo sabem que quem nomeia e quem demite é a presidenta da República". O ministro do Trabalho imediatamente mudou sua linha de declarações. Hoje, a partir das 9h30, ele prestará depoimento na Câmara, numa visita acertada entre governo e oposição. Lupi já decidiu que não fará nenhum pronunciamento de confronto com Dilma Rousseff.
A bronca da presidenta Dilma em Lupi foi comunicada pela ministra Gleisi pessoalmente, antes de ele participar com ele de uma reunião para tratar da instalação de ponto eletrônico na Esplanada dos Ministérios. A conversa com Lupi foi a portas fechadas, no quarto andar do Planalto. Gleisi ressalvou, no entanto, que acreditava que tudo foi feito em meio a um "clima de estresse" por causa das denúncias que recaem sobre o ministro
Apesar de considerar que não corre riscos de ser demitido, Carlos Lupi viu o fogo amigo aumentar hoje. Aos deputados Miro Teixeira, Reguffe e ao senador Pedro Taques, juntaram-se três fundadores do PDT. Estes, muito mais virulentos. Os ex-deputados Vivaldo Barbosa e José Maurício, ambos do Rio de Janeiro, e Fernando Bandeira, do PDT gaúcho, exigiram a demissão de Lupi e a renúncia dele à presidência do partido. Os três chegaram a fazer uma visita à Controladoria-Geral da União (CGU) para pedir pressa nas investigações.
"O Lupi é um usurpador. Ele dilacerou o partido. Fez do PDT um balcão de negócios. Tem de sair imediatamente", afirmou o ex-deputado José Maurício, dono de sete mandatos. "É um mentiroso. Diz que é fundador do partido, mas só aderiu muito depois de o PDT ser criado", continuou Maurício. "Com Lupi corremos o risco de ver o nome do PDT enlameado", acrescentou Vivaldo Barbosa. Tanto Maurício quanto Barbosa foram deputados constituintes e são da ala brizolista do PDT.
Carlos Lupi não quis comentar as declarações de seus colegas de partido. Preferiu o silêncio a arrumar mais confusão.
PDT afirma que declarações não foram ameaças
São Paulo (AE) - O PDT divulgou ontem, em nota, que as declarações do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, feitas ontem durante conversa com jornalistas, não foram de ameaça à presidenta Dilma Rousseff ou a quem quer que seja, mas sim um desafio aos acusadores. "Importante esclarecer também que em nenhum momento as declarações do Ministro Carlos Lupi, durante coletiva ontem na sede nacional do PDT, foram de ameaça a quem quer que seja, muito menos à presidente Dilma Rousseff, mas sim um desafio aos acusadores que se escondem por trás do anonimato", diz a nota.
A nota destaca que o "Partido Democrático Trabalhista (PDT) foi a primeira sigla partidária, ainda no primeiro semestre de
Ontem na conversa com jornalistas sobre denúncias de irregularidades na Pasta do Trabalho, Lupi disse, entre outras declarações, que para tirá-lo do cargo "só abatido a bala e tem que ser bala forte, porque eu sou pesadão". Quando questionado sobre a confiança da presidenta Dilma Rousseff nele, o ministro declarou que "duvida" que a presidenta o tire do cargo.
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